José Rosinhas Art Gallery Wall | Hous3 | 02 fevereiro a 30 março 2018
02 fevereiro a 30 março 2018
Um homem escalou uma montanha.
Quando chegou ao topo reparou que se havia esquecido de si
Voltou a subir.
Este movimento de subir e descer repetiu-se várias vezes porque o homem repetia sempre o mesmo erro.
Quando finalmente subiu e se reconheceu no reflexo do sol entendeu que jamais abandonaria aquele cume.
O meu trabalho surge associado aos pequenos contos que escrevo e que funcionam como mantras. No início trabalhei a poética da perda através da Memória e do Tempo. Sempre com o rosto humano, retirado da iconografia da escultura fúnebre, como figura central, e acrescentei, a estas imagens, o misticismo próprio da sua origem religiosa cristã. São exemplo deste pensamento as séries Mágoa, Tattoo, Silêncio e a obra Mater Dolorosa.
No projecto apresentado agora, e que representa apenas o prólogo de um novo capítulo, a abstracção surge lírica e intimamente conectada com a paisagem numa simbiose privada. Poética e simbólica. Sensorial e perceptiva. Escolher materiais naturais para a produção das obras surgiu naturalmente. O gozo de trabalhar com matérias limpas (como a turfa, o pinho e a gaze) remeteu-me para um quintal que já foi meu e para um jardim que conto plantar. A organicidade da matéria estendeu-se rapidamente ao gesto de pintar libertando-me do fazer anterior.
Tentei e vou tentando tanto quanto possível, contribuir intimamente, para a construção de uma existência consciente e espiritual. Assim Land Escape(s) pretende traduzir a profunda conexão entre o Homem e a Natureza. A paisagem, apresentada aqui, transporta-nos para um momento (lugar) único. Suspenso. No início ou no fim da humanidade. Aquele momento de contemplação em que o Tempo se anula num staccato de visão. Sustem-se a respiração e num breve instante vislubra-se esta terra em fuga.